21 abril 2014

Perco-me porque me Encontro

Não é o medo, nem o desespero,
nem a mordaça ou o negrume
que me fazem perder por entre
as pedras do caminho.

Perco-me porque analiso
todas as poses grotescas,
todas as amarras dantescas
todas as esperanças caídas
todas as ervas daninhas
todos os rastos lavrados pelo tempo
todas as sílabas caídas ao vento
todas as mãos dadas à imaginação
todas as palavras trancadas
que se amontoam num só grito

Perco-me porque observo
todas as garras que crescem nas esquinas paradas
todos os passos suspensos no nada
todas as florestas verdes angustiadas
todos os cantos do mundo apedrejados
todos os átomos de tristeza
todas as fagulhas que surgem de rajada
todos os logros do mundo
que se desenham ácida e corrosivamente
e nos ferem como espadas

Perco-me porque sonho
germinar flores entre as fragas
desenhar os contornos das almas silenciadas
disparar a seta das lentas epifanias reveladas
acender as constelações inanimadas
construír pontes entre os meus dedos
e todas as poses desintegradas
convergir todos os furores de estilo
ceifar verões quando o vento nos atravessa num corropio
correr ao sabor da lentidão das ondas
desatar todos os nós atracados
acender pavios e mechas coloridas
colocar na mesa todas as emoções contidas
colonizar as mãos com vagas de sílabas indulgentes
e libertar toda a exaltação semântica
num espasmo equidestante
entre o silêncio das palavras fechadas
e o jubilo da alienação do tempo.

CRV©2012

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