22 novembro 2015

Os Carregadores de água

Carregavam as cestas apartadas da faina
devagar
montanha acima
reclinados
pelo peso nefasto dos trabalhos cerzidos em chaga
com a ironia sombria a galopar-lhes pelo crâneo acima
tropeçando nas superfícies planas
nos degraus impregnados pelo sal áspero,
mastigando vozes áridas
compassadas
segredos que rodopiam desalmados
em torno de um eixo nefasto
acabrunhado pelos burlescos traços
da implosão do mal

Sob o sol do meio-dia
vislumbra-se a hora de apartar as águas
extrair os nódulos fétidos dos carregadores de água
que infestam as margens cansadas
espezinhando tudo,

      peixes apodrecidos,
      pássaros sem asas,
      almas penadas,
      a alegria das mãos quietas em pousio

estropiando em insidiosa patologia
o lago solitário que emerge no meio da mata
temeroso corcel
degolado com omnipotência artística
sob a égide das águas resilientes
que crescem em obliquidade diferente
segredos imaginados
arcanos refúgios inexplorados
cheios de borbotões
e golfadas de seiva limpa.

Observo em silêncio
como um prestigiador dentro de um teorema branco
todos os barcos que se fazem ao largo
as partidas e as chegadas
os peixes, as baratas e as farpas
a ruína de todas as crenças amontoadas
vidas danificadas,
entre flagelos, desesperos, cinzas, máscaras de vidro
e os ataques compassados
carregando os cântaros de água
premeditando as avaras argamassas do futuro
recolhidas nas ameias,
nas torres de menagem,
nas pedras amontoadas
nos caminhos dissimulados
como lingotes orgânicos depurados em estrela.

CRV©2015

Sem comentários: