Parto esquinas com as mãos
para ver se encontro a semente
onde te escondes.
Rasgo paredes,
ao ritmo de tambores,
sempre que cantam brisas na minha imaginação.
Tento apagar-te,
atirando pedras de granito,
explodindo o pensamento,
lançando para longe as tempestades que trazes
que arrastam infinitamente essa contemplação.
Agarrado a uma janela aberta,
vagueias pelas dunas da memória
desafiando a fúria dos meus olhos.
Atiro-te,
mãos cheias de fel maldito, parto espelhos,
pago promessas e rogo pragas,
arranco os olhos em desespero,
fujo para longe,
sempre que vejo os inimigos de lado.
Atiças o desejo mas eu trinco maçãs,
que atiro à tua boca oca
como os furacões pela manhã.
Repudio o teu corpo, a tua boca e os teus braços,
abdico de todas as formas
que me incendeiam as pálpebras,
escondo-me
debaixo da terra,
onde correm fontes de água limpa,
desato nós, lanço relâmpagos
enriço faíscas e parto desejos,
pintando com cores garridas
as quatro paredes espalmadas dentro de mim.
Tento libertar-me.
Transformo-me numa ilha.
Esbarro nos meus silêncios, conto segredos
e proponho degredos. Faço da loucura
uma fenda alta numa muralha
onde víboras, dragões, asnos e camelos
rodopiam na terra remexida
com pás e forquilhas,
onde tempestades de tormentas e granizo
lutam contra legiões sem fundamento
caindo sobre o peso do pecado
transformando-se em monstros alados
cobrindo de luto as nuvens onde se refugiam os fracos.
Vejo-te de soslaio.
Somos duas estátuas caídas no chão, presas
por um tecido rasgado que esconde
a rigidez do gesso
que nos prende as mãos.
Temos raivas de nevoeiro sombrio,
olhos vítreos,
parados,
embalados num diálogo mudo
onde subtilmente todas as pedras do mundo
impulsionadas por exércitos gloriosos
fazem destas feridas
golpes e chagas completas,
agarrando a terra
como se fosses um cadáver aberto,
espezinhado pelas torres que desabam,
incinerado na fúria dos ídolos prateados,
observando o pobre traidor sufocado
em tormentas de granizo adornado,
com ouro falso sobre um mar azul,
mansamente lá do alto,
desvairado em gritos
prestes a constatar que o seu mundo
não é mais que um deserto aflito.
CRV©Jan2011
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