27 janeiro 2011

Girassóis

Há dias em que os girassóis se viram para mim.
Parecem lâmpadas à procura do sol.
As minhas palavras
iluminam-lhes a boca, por isso,
inclinam-se
lançando-se na inquietação do astro rei.

Gosto,
dessas pétalas atrevidas
e da face,
onde as estradas se levantam em auréolas de santo,
corpo cravado de espinhos
e braços verdes
como os anjos.

Observo-os em silêncio.
Como quem reza subtilmente.
Ato a língua ao peito e recito uma matéria
que cresce em explosão.
Voam abelhas ao entardecer.
Crescem em número,
num zumbido terrível que se enterra debaixo do chão,
numa cova funda,
praça agitada cravada de astros luminosos
onde as espumas são leves
e o vento se enreda
em extraordinária percepção.

À noite,
há um recital de estrelas.
Aproximo o seu rosto tombado com as mãos.
Toco-lhes ao de leve no corpo.
Evito os espinhos,
soprando uma brisa suave
que ressuscita a suavidade das mãos.

Desarrumo tudo.
Explode tudo.
O corpo, o verde, as folhas,
o amarelo do entardecer,
o zumbido das abelhas,
a praça e as pedras
que se atiçam debaixo do chão.

Há uma ondulação astronómica
nos campos de girassóis.
Espasmos
que abrem clareiras na escuridão.

CRV©Jan2010

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