Tranquei as gavetas do meu corpo
para esconder alguns bandos de pássaros
mudos. Vejo-os
suspensos numa triste melancolia
debaixo de um céu infinitamente
escuro.
Vejo as trevas esculpidas na tua boca,
braços sem qualquer navegação
e um corpo que se contorce,
como um rio sem rumo,
rasgando um estuário de desolação.
Folheio livros
para descortinar segredos,
surpreender imprecações, percepcionar raivas,
sentir corações,
interpretar angústias, desesperos, desejos,
ler mentes
e adivinhar reacções. Mas,
só vejo cruzares de pernas amargos,
olhares que se apagam no escuro,
mentes que engolem entranhas e vísceras
revendo sempre um murmurar
de lábios mudos.
A ria esvazia-se com o movimento das marés,
a noite cai como uma porta que tranca o infinito
e a morte desliza cobardemente pelas paredes
sulcando falésias de granito.
Refugio-me numa cave dentro de mim,
com o peso inútil das pedras
que rolam por uma escarpa muda.
Não há semente que germine aqui
resta apenas o trilho cego,
rasgado,
no silêncio de uma alma defunta.
CRV©Jan2010
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