21 janeiro 2011

Mãos

Elevo as minhas mãos no espaço e enquadro-te
na contraluz dos meus braços. És um ponto
no horizonte localizado entre os dois lados do meu corpo.
Trago comigo o esgotamento das minhas inquietações,
a vida que se faz espera,
o desespero de reencontrar-te.
Tropeço,
em grutas que se entendem até ao interior da terra,
por baixo de uma paisagem densa
de florestas e monstros alados.
Tenho um peso no peito que não seca,
labios gretados de solidão e uma sombra,
no lugar de corpo,
envolta num pano de luzes negras que me transporta
por lagos de enxofre
onde a morte é a atmosfera prisão.
Procuro o fôlego e a vontade
de ver estrelas, subir aos cumes das montanhas,
explodir muralhas e desenterrar o amor que se encontra
envolto nos espasmos das pedras.
O caminho,
é feito de um nevoeiro denso. Cobre-me
uma armadura de ferro
que me arrasta a alma sulcando no chão
uma estrada de determinação.

Finjo nada ver. Imagino
como será gritar flores, explodir estrelas,
coroar sonhos e barcas bêbedas de amor.
É nessas latitudes que o meu coração se perde, 
entregue aos devaneios dos poetas
abraçando viagens e atiçando clamores.

Vivo
numa floresta de árvores apodrecidas,
com buracos onde cabe o mundo,
árvores tombadas e reflexos da alma
onde tudo é assombrosamente escuro.
Por isso,
cubro-me de fantasias e silêncios,
panos de estrelas azuis,
sonhos de luar brancos e dedos atómicos
mergulhados em luz. Rasgo o coração
no centro das ilusões, colo os pés nas nuvens,
encho a boca de frutos frescos, abro os braços
e deixo-me resvalar, lentamente,
desse planeta incandescente,
feito de fogueiras, sonhos
e equilibrios de luz.

CRV©Jan2010

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