05 janeiro 2011

Pedras

Ceifei pela raíz
as veias que crescem no meu peito. Arranquei
as ervas daninhas,
esvaziei tudo por dentro e fiquei com
um monte de pedras na mão. Corri a lançá-las
de cima de um penedo, num buraco fundo
que chegava ao outro lado do mundo. Fiquei
debruçada a ver o silêncio da queda,
pássaros soltos no ar,
ciclo de marés de náusea,
ondas de espinhos,
naufrágio de peixes esbaforidos
mortos de olhar.

Pinto,
uma paisagem colorida, 
com violência de cores,
que devora o cinzento dos dias,
acende holofotes nos palcos
e vibra em oceanos de cor.

Vejo a loucura do disparo,
erro colateral inacabado,
embrulho a reacção no meu silêncio
ponho-a na garupa de um cavalo
rumo a um destino contra o vento.

O rio,
esvazia-se com o movimento das marés e,
não tarda,
regressa,
com aquele abandono de amante, deixada
à doçura do espanto,
com gritos e golfadas de sangue
que quebram a angústia
da separação do teu canto.  

Espreguiço-me,
lascivamente,
nesta surdez progressivamente semeada,
adquirindo pose de estátua
que se abre para um tempo assombrosamente épico.
Entrelaço-me com Urano,
gerando vida,
coupolando periodicamente com a chuva,  
fazendo das madrugadas
novas manhãs,
esculpidas na tua boca,
sensualmente madura.

CRV©Jan2010

Sem comentários: