11 janeiro 2011

Solidão

Olho para além
das grandes ondas, aquele
rebuliço de mar onde
uma parede nos separa. Há
um relógio avariado na porta
que esconde os segredos
da minha solidão.

Escondo-me,
dentro de mim. Procuro encontrar
a minha frequência interior
decifrando as pedras
que o vento trás
abrindo com uma faca
clareiras na escuridão.

Há uma projecção dramática
do mundo, num plano inferior,
onde o amor é um monstro
voraz que trepa por cima das casas
soprando brisas de destruição.

Escondo-me,
desse arquétipo traiçoeiro
que me deixou caída no campo de batalha
entregue à fúria
de espadas, unhas, pés e lanças,
produzindo loucuras luminosas
que assaltaram sombras e memória. 

Tapo a cara com os meus braços
de pedra.
Evito o absurdo da guerra.
Posto a nu,
o amor é um espectro indigesto
que nos rasga por dentro,
sem dó nem comiseração,
que nos faz desejar morrer sozinhos
num diário de esquecimento
cegos pelo sol e
crucificados em privação.

O tempo é lento, como um manto longo
que se arrasta
no nevoeiro da contemplação. Em redor,
tecem-se pregas fundas,
onde enterro os meus olhos,
guardando miragens de sofrimento
que foram apenas uma mera ilusão.

CRV©Jan2010

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