Olho para além
das grandes ondas, aquele
rebuliço de mar onde
uma parede nos separa. Há
um relógio avariado na porta
que esconde os segredos
da minha solidão.
Escondo-me,
dentro de mim. Procuro encontrar
a minha frequência interior
decifrando as pedras
que o vento trás
abrindo com uma faca
clareiras na escuridão.
Há uma projecção dramática
do mundo, num plano inferior,
onde o amor é um monstro
voraz que trepa por cima das casas
soprando brisas de destruição.
Escondo-me,
desse arquétipo traiçoeiro
que me deixou caída no campo de batalha
entregue à fúria
de espadas, unhas, pés e lanças,
produzindo loucuras luminosas
que assaltaram sombras e memória.
Tapo a cara com os meus braços
de pedra.
Evito o absurdo da guerra.
Posto a nu,
o amor é um espectro indigesto
que nos rasga por dentro,
sem dó nem comiseração,
que nos faz desejar morrer sozinhos
num diário de esquecimento
cegos pelo sol e
crucificados em privação.
O tempo é lento, como um manto longo
que se arrasta
no nevoeiro da contemplação. Em redor,
tecem-se pregas fundas,
onde enterro os meus olhos,
guardando miragens de sofrimento
que foram apenas uma mera ilusão.
CRV©Jan2010
Sem comentários:
Enviar um comentário