11 fevereiro 2011

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Arranquei o sol de Monet e
guardei-o numa dessas gavetas
onde as velas amainam brisas distantes
as sombras cedem a voos criativos
e os fins de tarde oblíquos
ganham um fragor cíclico
que a rugosidade do tempo lança
entre quatro paredes de um vigoroso azul vibrante.

Recordo os megafones especulativos.
Ameaças de desordem rancorosa
que espancam mulheres com vozes enlouquecidas
gritando contra um vento seco
cravado num inferno de medos,
torturando bocados de gente arrastada
entre sepulturas futuras
e o silêncio que se cola a uma corda pendurada
sobre corpos atirados para um degredo distante.

Monstros arrancam portas do avesso,
cortando entranhas pegajosas,
arrancando o mal pelas vísceras,
atirando bocados de náusea cinzenta
contra pautas feitas de letras estranhas.

O tempo morre
por entre um sol que se esvai em gritos,
cemitérios e crematórios sombrios,
frestas de um espaço vazio,
sorvido por um arco incomensurável,
trespassado por mãos caídas
entre saltos de luz e morte
onde desfalecem corações doridos.

Sonham-se madrugadas claras e céus azuis,
metamorfoses que hibernam,
em peitos adormecidos,
rostos entre as mãos perdidos,
a paz enrolada em bocados de sol
brisas serenas que se aguardam suspensas
neste poço fundo da alma
feito de  desejos de tardes serenas
aspirando olhar estrelas
esculpidas em noites peregrinas
que implodem
directamente da alma.

CRV©Jan2011

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