Percorro os terraços do templo
com uma golfada putrefacta na memória.
Poeiras e ossos degradados,
sombras que ondulam ao sabor do vento,
transportando furacões inúteis
que desatam ideias
embrulhadas num silêncio atento.
Observas o horizonte tranquilo.
Longe do desbravar de avenidas,
das imagens de uma banalidade voluntária,
dos espectáculos e silhuetas várias
que ecoam dentro de grades vazias,
abafadas por ventos e maresias
rasgando o peito com fendas e facas
perseguindo insónias e outras idiossincrasias.
Afastas-te da poluição das margens.
Esvazias a maré onde se exaltam vozes,
embrulhadas em palavras atrozes,
cavalos galopam sobre almas quebradas,
gente que corre com panos em chaga,
rasgando corredores com mãos decepadas,
partindo infernos com paus e espadas,
semi-enlouquecidos por cima do nada,
pedras imensas que rolam da escarpa,
semeando tormentas, lançando palavras,
pássaros presos, raízes amargas,
sinistros delírios, galáxias sem graça.
Desces,
ao centro da estepe,
mar largo onde cabem as mãos que cravam flores no chão,
semeiam barcos ancorados e colhem cumplicidades,
escavando estrelas no céu.
Sopram brisas que rasgam o cume das águas,
embriagam nostalgias várias,
sonhando todos os prolongamentos de mar,
onde homens de cinza se elevam no ar,
abrindo portos em todas as marés cheias,
eludindo tágides, ciclopes e sereias,
projectando mil sóis que eclodem dos meus dedos
cumprindo promessas encondidas em segredos
entrelaçando poses tranquilas e anseios
navegando pelas ilhas dos meus receios
latitudes do pensamento em expansão
agarrada a um cometa com cauda em explosão
desbravando clareiras douradas
projectando movimento de baixo do chão
iluminando cantos e estradas
evocando a luz
a uma imensa escuridão.
CRV©Jan2011
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