Dentro de ti
o movimento é subtil. Não há tremor,
nem espigas, nem estacas,
nem lanças, nem farpas,
apenas o sopro dos traços
que desenham janelas
por onde pássaros se evadem
ceifando as mortalhas que cingiam
o movimento dos meus dedos
ao amanhecer.
Voam rumo aos murmúrios do sol
Esquecendo uma nação cor de luto que desfalece
Onde reina a banalidade da perversidade
E a solidão
é um arco que se crava numa linguagem na carne
Feita de toxinas embrutecidas
que convergem como um espectro tecendo insidiosas patologias
feitas de cisões e falsas demagogias
Traições e crimes que marulham em vagas enfurecidas
Cedendo sempre
aos caprichos desonestos do passado,
cave escura onde navegam corações de pedra asfixiados
nascidos num poço de raízes pretas
sobre um manto de cadáveres espezinhados
feridos por balas cravadas nas costas
disparadas cobardemente por mãos mortas
onde eclodem larvas pútridas e chagas fétidas
despertando sombras e memórias de pais de outrora
num manto de pedras arremessadas por bocas decepadas sem aura
mastigando forragens de ventos e húmus
pescados ilegalmente numa floresta de brandos costumes.
Abri dois gomos de uma laranja.
Retirei-lhes as pedras do silêncio que se escondiam na polpa.
Enrolei-as na densidade das nossas mãos,
luzes suaves que anunciam o ressoar de passos adormecidos
Escondidos entre brilhos e abraços tranquilos
Mistérios clamorosos que rasgam abruptamente as manhãs
vindos do sumo que brota dos confins da terra
trapezistas suspensos em grutas
cobertas por folhagens discretas
enchendo o ar com sorrisos doces e gestos cúmplices
empurrando para longe o tempo e o espaço perdido
renascendo mistérios perfeitos antigos
num mar de espumas leves e de brisas que confluem do nordeste
como fachos de luz que se enterram em terreno agreste
abrindo caminho por entre subtilezas incandescentes
cedendo à vaga de árvores que se curva delicadamente sobre o presente
rasgando horizontes onde se colonizam fronteiras silenciosas
alinhando a tua energia na minha própria alma
grito rasgado terra adentro
pronto a ascender
ao mais improvável do meu ser.
ao mais improvável do meu ser.
CRV©Mar2011
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