Observo-te. És uma estátua de ferro
presa numa montanha de gelo,
fustigada por um vento norte,
cuja luz se desfez na explosão de uma confissão
que se fez poente.
Tens os lábios roxos do frio,
as mãos fossilizadas,
e uma paralesia silenciosa
que ceifa campos de trigo
em rasgos de chuva crematória.
Revolvo esse mundo gelado.
Ergo-o no espaço,
como um lago traçado no êxtase
de um rio amordaçado
ateado com centelhas e pavios
onde se agitam braços em becos esguios
para lá dos espelhos e dos martírios
onde se semeiam delírios e
tarda a quietude das planicies desertas
onde crescem espigas solitárias
cravadas com pregos
num chão esculpido em estacas de pedra.
Vejo imagens que respiram e pestanejam.
Corpos alados que correm por dentro de mim
procurando entre os meus dedos cometas sem fim
tentando evadir-se da cidade das minhas mãos
galopando velozes na ilusão
à procura da nostalgia de um poema
rezando criações entaladas
em palavras e teoremas
esperando o tempo para germinarem
bagos de sementes de pão dentro da alma
escondidos em potes de chumbo negro
mariando à deriva de longos degredos.
Assaltam-me personagens estranhas,
correm com linguas de sangue e alma perdida,
pairam como balas no ar enfurecidas
dentro de um cosmos solitário que gira
em órbita destes recortes de vida.
Estranhas gotas de água que se acumulam,
bandos de aves perdidas,
que rompem ondas enfurecidas,
na tranquilidade de um horizonte que estremece
suspenso na estética de um verso
assaltando-me como um poeta que me oferece
estrofes e colheradas de sol que me circundam
enlaçando-me em nuvens de cântigos que flutuam
levando-me ao lugar onde as asas tocam as falésias
e o tempo se suspende como um mito da Grécia
libertando-me de palavras que dançam
abrindo-se em poemas repletos de esperanças
fruto do desafio de armas brandas
de sonhos e
de axiométricas pedras brancas.
CRV©Mar2011
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