para o João P.
Conta-me os segredos das ondas
que se alongam no horizonte,
como braços que traçam repetidamente
contornos no arco-íris.
Corta os fios da tua boca
desfaz as palavras submersas no teu peito,
retira-lhes a polpa
e constrói uma paisagem
longe do sítio onde os sinos dobram aflitos.
Rasga as cinzas que se enterram
na raíz do pensamento.
Procura nas margens da tua sombra,
farrapos de inocência algemada,
palavras mudas encarceradas,
tropismos desfeitos a golpes de espada,
colónias de agonias sufocadas
e apressa-te,
corre,
veloz,
abre as comportas do Céu,
deixa entrar os cavalos de fogo,
derruba os novelos que se acastelam
e anuncia a tua chegada
ao som de trombetas e a trote de martelos.
Brinda a tua entrada com o estrondo de um sorriso
Corre até ao alto,
percorre os labirintos
em paz com os teus sentidos.
Alarga a tua existência,
desfaz os nevoeiros de passagem,
rodeia-te de tornados calmos e
dissipa as angústias do passado.
Trata as chagas de caminho,
segue os enigmas do vento,
sente-os a bater no peito,
ouve as vozes
e os ecos puros do pensamento.
Glorifica as tardes calmas,
repousa sem olhares regressivos,
toma-te para lá dos montes densos
e exala o frémito glorioso
da beleza dos sentidos.
CRV©Mai2011
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