Observava a rugosidade das folhas,
o campo de trigo maduro
que se misturava no horizonte
com o chumbo das nuvens
que ameaçavam despedaçar-se
contra a planície. Fustigava o ar
uma brisa que acariciava o topo das espigas
numa tirania de afeição cumplice.
A capa de Faulkner recordava-me
tempestades imprevistas,
tornados que rasgam o chão
e cravam aparatosamente
espadas no céu.
Qualquer coisa entre o tumulto
das correntes de ar frágeis
das correntes de ar frágeis
e a impaciência
que transportam os segredos do vento.
O título,
algo entre o Som e a Fúria,
a tranquilidade ambígua dos grandes espaços,
cavalos que correm a galope
numa sucessão de imagens em modo lento.
Folhas de papel que guardam recordações.
Troca de visões
naquela mistura imbecil
entre a alegria e a suspensão do tempo.
Procuro tapar os recantos
desdobrando o vento em pequenas brisas
aprisionando-as confortavelmente entre as minhas mãos.
Invoco a claridade do espaço
enquanto os meus olhos se perdem
contando as nuvens fixas no céu.
Não notei que tinhas entrado.
Apenas senti o teu vulto
que me contornou e tocou no meu braço.
Olho para as tuas mãos
enquanto percorres o sedoso virar das páginas.
Galhos tisnados que se movimentam
abreviando,
lentamente,
as distâncias do tempo.
A proximidade é tremenda.
Tem a voz do mar suspensa,
asas a bater
e uma tela em branco
prestes a viver.
A tempestade começou na capa de Faulkner.
CRV©Jun2011
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