a caír das árvores, que se fecham as mãos
com pudor, abrindo em gomos
a sabedoria selvagem, fecundada
na solidão dos mares longínquos.
Tomei-os nas minha mãos.
Abri-os em cruz e levei-os à boca,
nesse doce áspero, açucarado,
que transforma as pedras áridas
em mel delicioso.
Crescem ramos em desertos inexoráveis.
Folhas frescas,
que se agarram aos primeiros troncos
em busca do céu puro, ensanguentado,
desenhado,
em tranquilos fins de tarde de Outono.
Num canto, a terra é assombrada pelo logro
das bocarras imundas dos impuros.
Vozes tumultuosas que se enredam
em redor da cisterna onde empesta
uma canalha escrevedora
que, com um olhar, tenta
secar todas as árvores de fruto.
É tempo da poda.
Tempo de deixar brotar
aquelas ondas do mar
que remoinham entre os penedos negros,
onde as dores se acastelam
e os furacões fazem estalar o soalho dos barcos
que viajam soterrados nas espumas dos degredos.
Virem-se os barcos, revolvam-se as águas,
grite-se que se atiram ao mar
todos aqueles que se recusam soltar as amarras.
Libertem-se os fantasmas,
batam-se as asas rumo às luzes alvas,
escreva-se no papel,
corte-se a língua, rasguem-se as palavras,
afastem-se os panos, limpem-se os palcos,
derrubem-se as barricadas,
destruam-se as palavras geladas,
dinamitem-nas,
sem pudor nem preconceito,
criando eufemismos a preceito,
despedaçando sem mácula
as bigornas onde se forjam
todas as setas, lanças e espadas.
E aí, sim,
explodir de alegria, florir em comoção,
dançar na profusão dos olhares,
na leveza dos relvados,
contra o vento atiçado
revoltando todas as ondas e mares gelados.
Depois, germinar entre as minhas mãos,
algumas migalhas naufragadas,
fazer crescer as palavras
com sopros de sonho e acuidade,
bando solitário do meu guetto,
campos semeados,
de poesias e afectos.
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