17 novembro 2011

Paisagens

Paisagens tranquilas, inexoráveis, esbatidas
pela sombra das árvores que se agitam,
lentamente,
ao som da brisa da alvorada.
Folhas que se atiram para o chão
numa urgência de mudança. Folhas mortas,
caducas, putrefactas de esperança.

Agitam-se ramos sombrios.
Braços despidos que se espreguiçam
como ocasos que se libertam das areias do tempo.
repara na calma em redor,
ouve a beleza do silêncio,
escuta-o bem e aperta-o no teu regaço,
frémito aguardado do passado,
combustão lenta de sossego.

Desenrola a mortalha apodrecida,
constrói uma pira funerária,
foge da chuva e
saboreia docemente as palavras.
Sussura baixinho.
Morde o silêncio devagar.
Goza a recompensa, numa dança lenta
Prenúncio de paz triunfada.

Solta-te num campo de trigo,
fica alerta com olhos de gato,
desliza tranquilamente por entre o feno dos amigos
locais onde se prolongam e rodopiam abraços.
Agarra o verde das folhas,
as rugas do corpo e os campos serenos,
mistura tudo nas tuas mãos,
em local longe dos degredos .

Ceifa de uma só vez os verões,
procura corações com duas entradas,
ouve o vento que entra em rodopio,
dá de beber à secura da paz,
desperta nos olhos metamorfoses
que transformem todas as alvoradas.

Coloca as mãos em jeito de remissão extasiada,
reune todas as nuvens espessas,
muda os marcos antigos,
renova todas as confissões desejadas.
Desdobra tudo do avesso,
desvenda o infinito,
corta as amarras de luto,
corre em planaltos fustigados pelo vento.
Agarra bocados do sol,
esconde-os entre os teus dedos,
faz da alma asfixiada um tambor mudo
esmaga as sombras que te cercam,
e explode sílabas no ar que convolem
o peso da respiração
num fragmento de negociação
entre os dois extremos
de uma bipolaridade.

CRV©2011

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