04 novembro 2011

Quo Vadis?

Neste monte arrancarei o véu de luto
que cobre as nuvens onde se refugiam os fracos.
Enterrem-se todas as mágoas,
e transforme-se cada átomo num desiderato lato.

Como obras de arte
encerro as palavras na sua individualidade infinita,
crescendo no percurso circular da sua essência,
sentimentos que surgem como montanhas mudas
condenadas à sua tímida perplexidade,
onde tudo se retrai,
tudo é calma aparente,
tumulto solitário,
estribos de aço,
cavalos alinhados,
implosão em deserto atravessado,
palavras escondidas em covas fundas,
cárcere que abafa todos os sons parados do mundo.

Soltem-se a galope as enigmática forças amestrais,
galguem-se todos os degraus suspensos,
abandonem-se todos os tumultos densos,
procure-se o silêncio da nossa paz,
as formas suaves que se vislumbram na escuridão,
agarre-se com as mãos todos os ouriços do mar,
acabe-se com os bufões, os insultos, a vigilia negra das nossas mãos,
afastem-se todos os olhares que traçam fogueiras revoltadas,
cortem-se as escutas do vento
estanquem-se as almas que sangram
fustigadas pela urgência de não deixar rasto,
observem-se as transacções de sobrevivência,
rasgue-se a paralesia provocada pelas palavras,
imagens que se agitam numa loucura indecifrada.

Corre a detonar a timidez,
procura curva-la sobre o seu próprio espectro,
evitar o público agrilhoamento e a constrição da esperança,
libertar o pensamento,
lançar a alma para longe dos pântanos,
correr como uma seta em busca das fontes de águas calmas,
amar todas as ondas do mar,
descansar deste colapso gravitacional,
elevar o espírito sem qualquer acusação moral,
procurar o conhecimento honesto e a grande eloquência,
silêncio poético,
busca inesgotável de consolo,
cais de torpor, suspiro de paz,
palavras que se soltam da minha boca
num estrondoso desejo
de desagrilhoar
a minha própria liberdade.

CRV©2011

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