24 novembro 2011

Um Lugar Desconhecido

Coloquei o meu corpo num oásis,
protegido pela tranquilidade das palmeiras que balançam
lentamente
ao som da brisa da tarde. Colhe-se amor
às mãos cheias, amizade feita de abraços, ternura
em cada gesto, honestidade que transborda
em golfadas,
desejo incontornável
da minha sede abstracta.

Habito um lugar desconhecido,
longe dos palcos e dos peitos vazios,
das mãos putrefactas de carinho,
das mentes tenebrosas, onde a inveja comanda
e a mentira apavora
em inesgotáveis sedes de vingança.

Circunda-me uma calma e uma paz
que resvalam das minhas mãos para a noite,
iluminando os cantos sombrios,
alma que em silêncio encontra uma luz clara
num corpo amarrado a uma fonte de verdade,
isenta de véus e de máscaras
de gestos dúbios e palavras gastas,
intrepidez inabalável
a todos os revezes e ameaças.

Bebo dessa água, fiel à pureza clara,
voto de transformar em vida tudo o que me rodeia,
tocar com urgência o choro dos que sofrem,
embalar a má sorte dos desterrados,
desenrolando a abundância em faixas,
que dissipam as sombras e o medo,
eclodindo por entre fissuras e amarguras,
os rios da eterna esperança
que resistem à passagem do tempo.

Escavo o rasto dos meus passos
numa estrada expressionista
entre o poder transbordante da palavra
e a acção que acalma os desesperos.
Faço da serenidade a minha confissão.
Prego flores nos descampados e enfio-me
num poço de estrelas projectado do céu
com palavras doces espalhadas ao vento
germinadas em campos de trigo e rosas amarradas,
fotografia cartonada
confidenciada em momentos só meus.

Refracto a luz do sol
nos percursos das longas odisseias,
parto a dor e a revolta
que perturbam as encruzilhadas alheias.
Deixo a beleza sussurrar baixinho,
dissipando o pano implacável da solidão,
como as bagas da segunda natureza redentora,
retiro-as de uma vontade determinada
em acudir aos campos de batalha,
transformando a espaçosa desolação
numa parte verdejante,
desentranhando a doença e crispando a diferença,
mística crença inabalável num óasis
de felicidade e esperança.

CRV©2011

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