assim como quem conta uma melodia suave
enrolava o meu sorriso nos teus dedos
as gargalhadas nas tuas palavras
e quebrava todos os entardeceres ensaiados
soltando todos os beijos aprisionados
nesse teu corpo desejado.
Entrelaça os teus dedos nos meus
e devagar
desfia um inventário de emoções silenciadas
o amor tranquilo, a infinita solidão,
a seta que transporta todos os cavalos de fogo
as vagas que rebentam enfurecidas
contra as rochas da paixão
Deixa-me abraçar-te
com a ternura que alastra as amarguras
esculpir no teu rosto a densidade das linhas da verdade
procurar nesse teu mundo
a ponta do fio das nossas fantasias
o percurso secreto do labirinto de Creta
todas as peias das nossas odisseias
as fintas de Ícaro e Dédalo
rumo ao voo sagrado da nossa liberdade.
Vem, não faças como Teseu
Fica depois de venceres o Minotauro
Traz-me o fio de Ariadne
e tece o nosso amor numa linguagem erudita
feita de hiperboles e metáforas doces
letras exóticas por dentro de sílabas
numa semiose alegórica
como só tu sabes compor.
Repousa a tua face no meu peito
enquanto beijo lentamente o teu rosto
deixa-me procurar o fundo dos teus olhos meigos
esses que escondes
e que reunem brisas e trovões
nessas contradições sentadas a um canto
que desafiam silêncios e apologias do depois.
Deixa-me especular
sobre as cores que contornam o sol do horizonte
as praias da ilha de Naxos
a tua sombra que me preenche
e todas as palavras
que projectam fulgores e cintilações
neste imenso espaço aberto
feito exactamente à medida dos meus sonhos.
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