encontrarás sempre
rostos com as pálpebras fechadas
bocas amordaçadas
corpos ásperos que ondulam ao vento
corações que rolam pelas escarpas
chagas que jazem em ferida
num chão inerte, sem vida,
estrangulado por fissuras
por onde rebentam amarguras,
e o sinistro delírio da tua sombra
é um espectáculo no último acto
enchertado num percurso falhado
soterrado por ressentimentos guardados.
Nunca esperes um sorriso
ou qualquer palavra meiga
atende à morte que espreita
prepara a seta da despedida
junta os humus da monção
a tristeza sentida,
o pandemónio das paredes caiadas de branco
e faz como o belissário
que se prepara para a morte depois de despojado.
Compreende a precária ilusão
de acreditar que havia mundos sem solidão
onde o fulgor da escrita enaltecia as espécies aflitas
e os extases eruditos eram caixas tântricas
onde germinavam hipérboles e metáforas
que se insinuavam em almas gémeas
como asas que flutuam sob o peso da respiração.
Não, nada disso.
Afinal, todas as palavras caem em covas fundas.
A beleza contrai-se, como uma estrela que definha.
O sol implode, retirando-se para um degredo.
Os cometas partem, com todas as emoções ao rubro
Resta, por fim, um céu escuro, sem vida,
simulação de um súbito sepulcro
onde os desterrados escondem furacões que se agitam
com a urgência que rasga todas as velas soltas
e as vagas ficam subitamente petrificadas
por uma linguagem ácida,
corrosiva, genocida,
que pulvoriza o desenrolar da música das ondas
cobrindo com um manto negro
todos os pássaros que se evadem
decepando todas as abstracções
extinguindo todas as emoções
metamorfoses aniquiladas por exércitos de astros
que não pactuam, nas cercanias,
com a passagem de cometas estrangeiros.
CRV©2012
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