12 novembro 2012

Sombras

Permanecem parados a um canto
enrolados com as garras presas
escondem várias línguas bífidas
balbuciam gemidos desconhecidos
emaranhados em prédicas lentas.

São prisioneiros de conjuras com a noite
sofrem as dores dos renegados na sombra
têm grades empoleiradas na alma
infernos desolados nos gestos desmaiados
abismos soterrados de ossos macabros
pálpebras cozidas com fios apodrecidos
carrancas agonizadas por dores infligidas.

Arrastam-se como repteis grotescos
têm os olhos vítrios das noites cinzentas
flutuam no ar como palhas empurradas pelo vento,
sem destino,
dão os passos silenciosos dos cadáveres feridos,
vagueando em madrugadas ausentes
num galopar frouxo e repetido.
Montam cavalos decepados de medo
percorrem todos os recantos dominados pelo vento
puxam carrilhões pegajosos de memórias
nações de luto que desfalecem
crianças esventradas pela sua glória
homens e mulheres abatidos pelas trevas
enterrados num lodaçal de armadilhas de barro
com um odor a mofo e morte
que asfixia todos os fulgores
que se elevam do horizonte.

Observam o arco-iris
como um nevoeiro que paira sobre a cidade.
Encobrem-se da luz que os rodeia
invejam o mote, o pardal saltitante, a alegria, as palavras
Tentam apanhar as asas que esvoaçam
não compreendem a extensão dos prados verdejantes
as flores que crescem ao acaso
as janelas iluminadas
o sol que sussurra nas árvores
os contornos das chamas
o fogo que consome a solidão e os naufrágios
a apoteose semiológica
que infiltra alfinetes no pensamento
os gestos tranquilos,
as mãos dadas,
os abraços,
o amor que se infiltra pelas frestas como um fumo quente
e as inesgotáveis figuras de estilo
empoleiradas no alto dos montes silenciosos
que se lançam
sobre campos de searas douradas
como uma tempestade
beijando a noite agitada
com a sua personalidade
indestrutivelmente,
forte.

Continuam arrumados a um canto
Vultos que se instalam no vazio das salas
Com sobrolhos naufragados
Atalhos remendados
Memórias apodrecidas
E todas as almas paradas
Seja!
continuarão a traçar guerras com letras minúsculas
a balançar como carrascos inseguros
vultos perdidos na distância do esquecimento
Logros,
sob a forma de sombras,
que não se podem apelidar de
Gente.

CRV©2012

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