Para P.N.
Encontrei-te no meio da multidão
naquele espaço de tempo que tão bem conhecemosquando o nosso olhar
gera sementes no silêncio que nos cerca
e o mundo se suspende
e a felicidade concentra-se
quando me apertas contra os teus segredos
dentro do enorme círculo do tempo
num longo e demorado abraço
onde tudo pára,
tudo são emoções a descoberto
registos que nos envolvem sempre
como um véu com mil refracções pungentes
Há sempre estrelas no teu rosto
umas brilham por perto
outras correm em luminosos ciclos
enredando-se por detrás das nossas memórias
troncos que se agitam serenos
folhagens verdes que esvoaçam
envolvendo todos os dedos
nesta paragem obrigatória da alma
pensamento enxertado
na nossa dupla cumplicidade
cercado por ameias, contrafortes e adarves
onde por dentro tudo é belo,
tudo é música com um doce significado.
Regresso aos teus braços desde que me lembro
indizível arco do tempo
que nos faz descer
ao nosso universo sublimemente transparente
luxuriante muralha que se anuncia
com um dialecto próprio
ornamentada por símbolos e epigramas
recortados nas reminiscências da nossa infância.
Olho-te com a ternura de quem regressa à ilha
construída no fundo do quintal
feita de tábuas e canas encantadas
longe do mundo
longe de tudo
dentro da alma
por onde trespassavam infinitos raios de luz
densos como filigrana
claros como a madrugada
onde se desfiavam conversas secretas
escondidas entre as ameias cercadas do castelo
partilhando olhares suspensos no ar
suportados por brisas suaves
sussurrando a paz
numa luminosa descoberta
tingida com as cores suaves
de que são feitos os primeiros enigmas
arquitectados na vanguarda
dos velhos mistérios indecifrados.
CRV©2013
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