09 dezembro 2013

Lugares Incertos

Torce as palavras e
desenha um monte de poentes dispersos ao acaso
ergue num estandarte as letras certas, imaculadas
escuta o estalido dos teus passos nos gravetos do largo
cria uma voragem de elipses ávidas de uma mensagem
um som repentino, incisivo, alinhado com a ascese
que lavra sementeiras nas tuas pulsões indomáveis
e ergue-te afastando o nóxio das fendas agrestes
a poalha dos campos agitada,
os galhos obscuros atravessados,
as canas que irrompem sobranceiras
os contratempos que pervertem
o movimento megalítico dos penedos
que se bastam com o sadismo casto
de um sol encoberto por nuvens castradas
numa babilónia de verdejantes jardins suspensos.

Torna fértil a chama que bruxuleia no lugar incerto
procura-a entre os quartos onde ateias o fogo ao vento
agarra as sombras que se evadem do teu imaginário,
não as deixes partir,
fende-as na raiz que germina numa explosão obliterada
inquinando todas as máquinas absurdas do tempo
e desenha no céu a apologia de uma colonização sábia
rápida como os furacões que varrem os campos à desgarrada
revirando do avesso o olhar de nuvens minúsculas desenfreadas
atando os sonhos aos ruídos mudos do tempo

Simplifica a tua imagem agrupada em escarpas
cria estacas que se agarrem ao colapso gravitacional
das sementes das tuas veias intrincadas
revolve
vagarosamente
todos os recantos que justificam uma ponderação grave
desbrava todos os epigramas iconoclastas
todos os patamares exortados em movimento
e cria uma hegemonia turbulenta à tua passagem
fraga insigne depurada pela luz atravessada
leve como as preces dos monges em aura cinzelada
forte como o estrondo em fúria de uma erupção inesperada
arremessada numa cordata de palavras ornadas
propagando-se como a mecha de um rastilho
que arde em perplexa combustão lenta.

CRV©2013

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