04 maio 2014

Lord of the Rings

Surgem do nada
montados em trapos e enclaves de sonhos
erguem-se com o desassossego do vento
fazendo dos cepos sombras dementes
convergindo dos cantos lentamente
ultrapassando as pedras, os muros, as montanhas,
as sequelas dos antigos livros messiânicos
devastando tudo
numa escala estratégica
que visa uma única pontística permanente.

Vêm montados em cavalos doentes,
ligados por trapos, panos rotos, ligaduras rugosas
e memórias perpetuadas por uma nebulosa glória
que corroi os céus destroçados,
a nostalgia dos corações emparedados,
os egos majestosos da chuva, da neve
e das brisas tranquilas que sopram com suave entusiasmo
encobrindo o sol poderoso que se ajeita
contra a Terra asfixiada em tons escarlate.

A presença é pegajosa
produzindo um acerbo de boca
díptico de sentimentos que se confundem em pose grotesca
mecha fundida entre a aleivosia cínica
e a elipse gasta de uma podre lassidão demente.

Surgem de covas fundas
convivem com os ratos, a peste, os fraudulentos cruéis
povo que habita nas culpas
que agitam os medos perversos
nação esventrada pelo luto de sentimentos
derrotada nas chamas dantescas
numa ocasional fraga do vento
que queima os perversos ímpios no inferno.

Tarde ou cedo todas as torres desabarão
a noite crescerá aquando da sua passagem sinistra
o sol obliterá a densidade dos seus braços de gestos petrificados
evitando as sombras erguidas das campas antigas
evitando os seres que arrastam bocados de vida
fazendo do silêncio o girar das suas penas agrestes
fazendo do medo a confusão urgente
de quem não se resigna e ergue os estandartes da vida.

Evita o baraço dos que têm cavernas no peito
os que têm pássaros aprisionados
os que bajulam cultos sangrentos
e agarra o húmus do chão sagrado
onde farás a tua casa num ponto alto
cumprindo a profecia dos que na sua solidão
gozam a felicidade inigualável daqueles que permutam
todos os silêncios glorificados dos diálogos com as estrelas
alcançando ao de leve os dedos frágeis
dos que disparam as setas dos justos
heroicamente.

CRV©2014

Sem comentários: