21 março 2015

Dia Mundial da Poesia - 2015

Aparecem na escuridão amiotrófica da noite
penduradas ao contrário pelas pontas das pernas
pelas raízes do ventre infinito pungente
pelos laços imperceptíveis
que unem as sementes que rangem invisíveis
ansiosas por lavrarem terrenos virgens,
na escuridão desconcertante feita de traços, pontos e arabescos
escritos a seiva com as mãos entorpecidas
como garças esgravatando nas águas de um lago ausente
preparando-se para tudo
para exortar os esboços coroados em penedos insolentes
naquele local espaventoso
onde crescem as palavras que vão mudar o universo.

No compasso em que se insinuam as sendas pagãs
olho-as de soslaio
recantos onde germinam histórias loucas,
sonhos inclinados sobre a solidão própria
e a subversão das regras que revira o arcaboiço lógico
eclodindo em energias multicolores,
cantos de fulgor
e fumegares que brotam dos infernos ou dos paraísos interiores
com uma força ardente
com uma vontade própria
numa inquietação religiosa
agitando-se entre os enigmáticos aprumos da memória
e o viço da luz suave do candeeiro
cúmplice silencioso dos escolhos
que marcam o trajecto que pulsa por entre a noite.

E tudo depende do modo
como se alisam as espigas que ganham asas
teremos o compasso certo de espera entre as penas
os reflexos mistos e omissos
o amor, a saudade e as pausas serenas
as mãos eternas desesperadas que se lançam sobre as letras
libertando-as das transenas encarceradas
dos cadeados perdidos,
dos degredos vencidos
das turbas ocultas no tropel das letras insolentes,
fazendo das guerras sinistras
um viço pungente enxertado na voragem da escrita.

CRV©2015

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