12 outubro 2015

Horton Plains

Olhando para o alto
a subida prometia um tropel de cantigas
estreitos inclinados, veredas alcalinas
asas nos pés e sórdidas distopias
frestas de paisagens sombrias
com crateras solitárias

            (arquétipos eternos
            onde se embrulha a lenta missão
            de desfazer
            todas as diásporas sublimadas com ideias imaginárias)

escolhos que se amontoavam à superfície
enredados em linguagem de espinhos
e conchavos de árvores melíferas
faziam avançar com explosão determinada
através de leiras de terra tisnada
veredas paradoxalmente ávidas de água
derruindo ervas, silvas e cabeços estrangulados
que se emaranhavam em ponto pérola aninhados
em silêncio afásico
determinado pelo sabor acre dos ruidos exaltados
incitada em marcha cadenciada
pagando pedágios
que se insinuavam desajustados ao troço palmado
olhando para o cimo
numa realidade suspensa que repristinava
todos os ciclos fechados.

Lá no alto
saneava-se o “Fim do Mundo"
porto voltado aos quatro pontos cardeais
fumegando no ar
eleito por entre nuvens voltadas ao contrário
cravado por entre uma aerológica turba de galhos e rochas
uns pespontados a negro
outros verdes emaranhados
agarrados à alma do penedo
onde eclodem rebentos indolentes
de sementes sibilinas trazidas pelo vento de outra parte
infiltrando-se no chão agreste
numa hibernação propositada
aguardando as primeiras chuvas
perorando um ciclo de preces em estilo oratório fechado
escrevendo sem pena, estirador ou papiro de outros tempos preparado
ensaiando formas felizes
viradas a oriente
com desassombro e coragem.

Ao longe, a Nascente
o crepúsculo sugere uma panóplia de elucubrações mentais
quadros perfeitos que se elevam
na flora diversificada das ideias
lagos de águas calmas perto da foz de outros mais
arvoredos e tufos de vegetação densa
enredados em sibilinos declives aprumados
num mapa sulcado por desfiladeiros e cumes intemporais
contornados com o tom alvo da madrugada
ofuscando as grutas esconsas retorcidas
os penhascos pontiagudos e as fragas cerradas
locais onde se infiltram os animais desprotegidos
vultos com garras e patas partidas que esgravatam
contra a inevitável elevação das almas
com grande perturbação física
contra a fome das palavras dispostas em fila
vindas lá de cima
puxadas por veredas lucubradas
dando ao silêncio granítico a voz dos impérios pessoais
contra o eco dos vales que sopram pedras de rajada
contra a inércia
contra o iluminar das trevas em terreno próprio habitado
contra o fumegar da terra
contra o sol
contra nada.

CRV©2015

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