18 abril 2017

Anima Domus

Seguia por uma vereda estreita acidentada
golpeada por tornados de poeira remoinhada
e novelinhos hereges que demudavam a seus pés
contra os seixos aculeados
por onde se apressavam os seus passos
cravando-se como espinhos
nascidos em profuso terreno agreste.

Com a urgência que lhe impunham os sentidos
apressava a marcha
empurrada pelo ensejo de chegar ao cimo do atalho
para rever ao longe o recorte etéreo da casa
depois das lucubrações mentais
engolida pelas silvas vadias, os cardos e as giestas bravas
esquecida como uma ilha perdida
estropiada como um esqueleto abandonado na margem

Desobstruída a perfunctória via vedada
chegados ao cimo retardado
impunha-se a confidência introspectiva dos solitários
olhar os campos, a eira, a casa
as telhas matizadas em tons laranja indecifrado
as vigas retorcidas aprisionadas na pedra antiga
as janelas exiladas que respiravam em tensão contida abnegada
as portas incrustadas em paredes de aleivosia cinza
rombas por conciliábulos vencidos pelo granito inamovível
como conchas forçadas a engolfar
todos os axiomas interditos da nascente de um rio

A eira
em frente à casa
era o local onde o sol traçava
auspiciosas rotas na madrugada
e a lua aguardava essa alquimia que convergia
criando trilhos e epifanias
que mimetizavam hipérboles agitadas
num desvelo presumido
que se erguia num requinte gráfico de palavras

Com as mãos acariciou ao de leve as pedras da entrada
Sentiu-lhe a robustez e a rugosidade sonhada
Os momentos de felicidade
quando a alma se soltava e esvoaçava livre
como um corcel num campo de batalha
e as melodias evoluíam em suaves nostalgias
em perfeita sublimação interiorizada

Chegava com a saudade de quebrar luzes apagadas
levantar as sombras caídas
libertar as estátuas aprisionadas
dar-lhes alma
dar-lhes vida
dar-lhes a rota para uma debandada massiva
ficar a vê-las voar rumo ao gradiente cromático
que represtina de assalto
todas as fabulações engenhosas da poesia

CRV©2017

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