12 julho 2017

A casa sobre a praia

para a G.V.P.


A casa caiada sobre a praia
vibrava
como um mundo de pura alegria invariável
com recantos de luz amplificada
que vagueavam pelo chão encerado
acompanhando invariavelmente
as medidas exactas da tarde
junto ao tranquilo alpendre envidraçado
em momentos de justo descanso eterno

Enquanto uns repousavam da praia
nós corríamos para um mundo sem dimensões
feito de fantasias ágeis
e desmesuradas agitações
onde se incarnavam labirintos e invenções
com bocados de alma tatuados
pelas paredes
pelo tecto do telhado
feito com mãos a três dimensões
com a liberdade de um poema
e as cores garridas de uma perspectiva animada
agigantada
pelo estremecimento de viver
por dentro
em sintonia
com o lado melhor de todos nós

Cozinhávamos a ternura dos nossos segredos
na vinda dos caminhos secretos
com longos abraços
sementes de cardo
amoras por entre as giestas
flores de fumo afinado
encontros que faziam tremer as pedras
adornos, chapéus e colares
tolerados por apêndices elevados
máscaras de palhaços espantados
por entre o apelo ao silêncio telepático
e as risadas estridentes
das coisas mais importantes do mundo

Na busca do desconhecido sobrenatural
as caminhadas pela selva
entre a água cristalina da fonte da Margarida
e os muros decadentes das quintas em redor
adornados com as garras das silvas inconformadas
carregadas de amoras silvestres
e flores selvagens entrelaçadas
gafanhotos empoleirados em vagens
osgas, cobras e lagartos dissimulados na terra
gritos histéricos
corridas de pânico
tropeções
e as pedras a enredarem-se nos sapatos
numa depuração das corridas proféticas desatinadas
cravadas nas grutas recônditas do passado
viço pungente enxertado
nas memórias que convergem
agarradas a um fio de prumo perpendicular
sentadas num baloiço
de frente para o mar
por cima de lingotes de ouro
desenhados
para além da linha do horizonte

CRV©2017

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