26 dezembro 2017

Nihil Humanum est

Surgiu por detrás dos escolhos timoneiros do alto
sobrevoando em revoadas
os acidentes geográficos da montanha pátria
que se erguiam contra o céu em ameaça
circundados por um corolário gasoso agitado
nuvens sem representação morfológica exacta
suspensas no ar, agarradas em confidência
esquadrinhando as fragas empoleiradas nos apogeus ásperos
iluminadas pelo sol que despontava
espalhando a luz sobre as neves perpétuas abandonadas
enterradas nas cordilheiras de pedra escarpada

Sem bater as asas
planou ao sabor dos zéfiros ascendentes
desenhando círculos, ângulos, curvas
arcos imensos cruzados sobre a floresta dormente
lívida de frio
paralisada pelo gelo
com todos os animais recolhidos
as árvores petrificadas
e o silêncio lúgubre
dos locais entorpecidos
pelos solstícios de Dezembro

Procurava uma ilha de clorofila
segura e tranquila
da qual pudesse fazer casa
ninho
terra prometida
escorar as garras de rapina
nos ramos obstinados pelas adversidades do tempo
escolher uma árvore
construir um mundo de privacidade
longe dos lobos
das alcateias
das sombras da noite
das ratoeiras
e dos dispositivos de caça ilegais

Cruzou os céus pela frente do sol de inverno
perscrutando os recessos das escarpas graníticas
sobrevoando os cursos de água limpa
as copas geladas
e os lagos de água fresca
deparando-se com uma clareira na mata
rodeada por sete-em-rama de porte variável
afastada do estranhamento da floresta
perto de uma linha de água adjacente
de carácter permanente
que prometia assegurar
a subsistência do advir
incerto

CRV©2017

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