08 janeiro 2018

Cartas Mudas

Sempre que abro a porta dessa dimensão
há um rasto de luz que atravessa o ar até ao meu silêncio
poalha remoinhada que esvoaça
penetrando ao sabor da aragem que passa
desafiando todas as palavras
que se concentram inquietas
debaixo de uma pedra tumular
da qual fiz o meu silêncio

Observa.
Retira do peito todas as letras guardadas em segredo
bocados de árias sussurradas
entre suspiros e tormentos
psicodramas individuais
exultações várias
jocosidades temperamentais
platonismos apolíneos
e tantas emoções tropeçadas umas por dentro das outras
que se amontoam numa pira festiva
à qual se ateia um fogo empírico que abra comportas
e purifique o âmago megalítico do caminho

Caminha.
Eleva aos céus todas as sementeiras latentes
cria um solfejo de ideias
um tornado discreto
uma nuvem cheia com recortes silenciosos
sobre as partituras do tempo
expondo os colapsos gravitacionais
as parábolas escritas do avesso
destruindo e criando tudo
implodindo e renascendo
colapsando a amálgama erguida
no interior da névoa suspensa

Ergue-te.
Forte como um penedo
espesso e resistente
inspira-te nos lugares recônditos da mente
recebendo a benção dos justos
semeando letras
cravando palmas bentas
envoltas em espasmos iluminados
feitos de suspiros e tormentos fechados
abismos e istmos
alegrias e apologias desenfreadas
cravadas em solo pedregoso e crosta agreste
ansiando pelo equinócio
onde todas os ramos vão florir
onde tomam forma todas as quimeras

CRV©2018

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