16 fevereiro 2020

A Pústula

Corrupção, depravação, perversão
são os arautos das pústulas do regime
bostelas epidérmicas
que se instalam num corpo social vertebrado
escondidas entre a tela subcutânea
dos que arvoram a caminhada hipócrita
e a passividade dos agentes cúmplices
que silenciam as transgressões
recebem comissões
velando na sombra
o eclodir de uma pápula purulenta
movida pela peste suína da plutocracia

Germine-se uma verrina comunitária de exprobração social
a premência em revelar os emaranhados ociosos
os rostos invisíveis, os sombrios decadentes
a carranca das ilhas ocultas a perder de vista
as sórdidas preces montadas a cavalo
as canções pronunciadas por estranhas aves
o metabolismo da encenação impoluta
o devasso, o corrompido, o subornado
o seduzido pelo mecanismo da avidez apodrecida

Corte-se o pedúnculo social que se ramifica
numa tortuosa inflorescência degenerada
corte-se a asfixia da burocracia inútil
exponham-se as entranhas, o cérebro, os olhos,
o pântano denso de vísceras inflamadas
denuncie-se o obtuso, o devasso, o profanado
o santo do diabo, o traidor da espera velada
cumpram-se os apelos de Eça, Ramalho e Dantas
expurgue-se a sociedade dos vermes que rastejam
das sanguessugas que se alimentam dos demais

CRV©2019

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