14 março 2011

Turbilhão claustrofóbico

Raios de sol trespassam-nos
neste turbilhão claustrofóbico de existência individual.
Há que conhecer a duração exacta do tempo,
atravessar a vastidão das areias,
subir até onde voam pássaros predadores de ideias,
cavalgar nas estepes geladas
atrás da nostalgia dos homens
que se entregam a amainar velas desfraldadas.

Descer ao centro da Terra, carregar com pedras
como um intrépido navegador,
soltar as amarras da madrugada e com os dedos
tecer as raízes verdes da alvorada,
como quem desliza uma bola
para dentro de uma cave apagada
e se propõe correr água
num rio que ferveu num monólogo
de conversas sufocadas.

Atravessar pontes de pedra,
escutando o ressoar dos passos,
como se corressem cavalos de aço,
fugindo para dentro do meu corpo
desbravando avenidas e suspendendo o fôlego
entre os lábios que se inclinam
renascendo para o espectáculo repentino da vida.

Navegar por dentro das ondas,
rodopio de silêncios e gestos,
palavras que trepam dentro do peito,
corpos que se espalham por entre as areias dos desertos,
sopros que o fogo devorou entre quatro montanhas emparelhado,
 tremores que se agitaram algures no espaço,
correndo frenéticamente do alto,
cingindo sombras em redor dos meus passos,
afagando com sopros ténues as chamas
que devoraram uma região algures no espaço.

Rodopiar por cima das casas,
inventando dias gloriosos na presença de nadas,
esquartejar o peso do pecado,
rezar a todos os ardores um bocado,
agarrar furacões e fortalezas
e comê-los com agrado,
por entre bandeiras que espalham antigas penas,
longe do tudo e do nada,
perto desse sabor impossível que desbrava alamedas e avenidas
em correntes quentes inundadas de vida.

Abismos feitos de luzes tépidas,
brilhos que anunciam fumos indizíveis que se prendem no ar,
neblinas que se escondem para lá dos montes,
curvas que percorro decifrando os enigmas das ondas,
por entre mares revoltos que nos perdoam
a falta de fôlego de florestas densas
de prédicas sem retorno, espectativas e demências.

Avalanches de palavras eclodem de um chão onde crescem espadas,
olhares que vagueiam sobre os mares,
procurando falésias de linhas calmas,
desfazendo o trajecto onde penam as almas,
em comunhão de mãos, desprendendo-nos da ilusão,
sem olhares regressivos,
farrapos de inocência algemada,
onde o tempo era um prado onde escorriam seivas encantadas.

Unidos damos saltos no tempo,
expondo pinceladas coloridas,
suspensas por cima da vida,
soprando para longe vôos de aves perdidas,
estendendo as mãos a olhares onde repousam mares de esmeralda
e um inexorável universo de excepções
que consegue revolver
o mais puro entendimento de duas almas.

CRV©Mar2011

2 comentários:

HELENA AFONSO disse...

Voei novamente neste espaço,
interditado por algum tempo,
abriu e deixou-me passar,
abri as asas e "cavalguei
através da nostalgia"......

bjº LENA

Paralelo Longe disse...

Que bom vê-la por aqui Lena. E este espaço nunca está interditado aos amigos. É sempre um enorme prazer tê-los por perto. Sempre Mais Perto do que Longe! Bj